domingo, 24 de fevereiro de 2008

O dono da Ilha

por Keissy Carvelli


Amanheceu com os planos fixos soando feito bocejos numa manhã calma de um dia incomum dos últimos 50 anos. Não sorriu, tampouco demonstrou qualquer exaltação de humor nas rugas do seu rosto já cansado e da sua barba, já não tão espessa quanto outrora, não se moveu um só fio.
Os passos, que na guerrilha marchavam clamando revolução, eram agora tímidos e suavemente lentos sem alvo concreto; os pés não calçavam botas de combate, mas chinelos confortáveis de uma vida enferma e, naquela decisão difundida, um velho idealismo.
Era ele, o ditador, o chefe da revolução ditando sua retirada estratégica do alto da torre. Era ele pendurando as botas de couro de tantas lutas e doutrinas no fundo do armário. Era ele, o mito comunista, afastando-se do comando da ilha. Era ele, mais uma vez, fazendo história.
O que ninguém percebia, ou melhor, o que ninguém gostaria de saber, é que as barbas foram postas de molho, os peões serão trocados, mas o dono do jogo não. Será ele, ainda que por trás das câmeras, o protagonista da cena, fiel e Fidel.

2 comentários:

Renato Ziggy disse...

Bravo! As pistas dadas passo a passo e o fechamento da narrativa de cunho crítico foram louváveis! Prazer em ler-te novamente... bjos!

Ilana Stivelberg disse...

E Fidel disse:
Toca, Rauuuul

:P