segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Citação

por Keissy Carvelli

Eu estou aceitando qualquer coisa.

Aceito o teu perdão, teu senão, teus erros, teus conflitos e medos. Aceito tua saudade, tua carência, teus meninos, teus desatinos, teus beijos, e tua distância.
Vou aceitando os teus sorrisos, tuas mãos, teus cabelos, teu corpo inteiro. Vou aceitando o teu egoísmo, teu altruísmo, teus amores, teus amigos, teus sabores e teus delírios.
Aceito o teu choro, as tuas frases, teus diálogos, teus ciúmes, teus passos e descompassos. Aceito tuas pausas, teus critérios, teus segredos, teus passeios, teus gostos e desgostos.
Aceito teu atraso, teus cigarros, teu abraço, teu silêncio, tuas euforias, tuas piadas, tuas magias. Aceito o teu sotaque, tuas músicas, teu sobrenome, tua cultura. Aceito teus desejos, tuas manias, tuas maneiras.
Eu aceito teus pedidos, teus recuos, tuas hipérboles e transgressões. Eu aceito os seus avessos, seus contextos, e suas paixões. Eu aceito porque não aceitar é poesia sem rimar.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um trocadinho, tio.

Eu poderia estar matando, roubando, ou vendendo o meu corpinho, mas não. Eu estou aqui, pedindo e vou dar motivos bem relevantes para tal.
A situação é a seguinte: vivo numa crise financeira fodida, e sim, eu saio, eu bebo, eu me divirto, mas sempre sem um puto no bolso. De onde arranjo grana pra beber e festar? Quem não tem dinheiro tem amigos, right? Pois bem, e eu amo os meus!
Ponto dois: estudo jornalismo numa faculdade que não era bem a que eu queria, é estadual, okay, numa cidade até bacana, mas juro, os professores são do tipo que não empolgam ninguém. Nada daquela coisa inteligente, de instigar o pensamento e enfim. Aí já começa tudo.
Ponto três: aqui, apesar de ser uma cidade maior que a minha e bem longe, não há nada do que eu sempre quis pra mim. Shows? sertanejo. Cursos oferecidos pela faculdade? agronegócios, como se tornar um ótimo pequeno agricultor e afins. Livros?UM ÚNICO SEBO. Pessoas? se alguém daqui conhecer Bukowiski eu dou o meu bukowiski pra qualquer um.
Ponto quatro (eu sei que já tá chato, mas continue, por favor): prestei a prova de transferência pra UFPR (a faculdade e a cidade que eu realmente quero), mas não passei, óbvio. Estou no meio do primeiro ano e caiu coisas do segundo ano. E, além disso, sou uma fodida, esqueceu? Nessa de ir prestar e tudo mais minha mãe gastou até o que não tinha.
Ponto cinco (e é aqui que a porca torce o rabo): tá rolando as inscrições para o vestibular da UFPR, e encerram em setembro. E eu quero tentar, sabe? Tudo bem que já esqueci muita coisa do cursinho, mas poxa, não custa tentar.A segunda fase é só redação, e dei uma melhorada esse ano. Poxaa...qual é, sabe?! Sem o peso de TER QUE PASSAR eu posso conseguir, nunca se sabe. (tá, tá, uma fodida assim sem sorte não vai passar, mas pôôô, se eu não tentar vou ficar me odiando o resto do ano que vem inteiro e vocês vão ter que me aguentar por aqui falando as mesmas ladainhas de sempre.)
O ponto alto agora: preciso de 85 reais pelo menos pra inscrição. A viagem até curitiba eu dou um jeito, carona, junto as moedas, enfim, mas PRECISO fazer a inscrição e eu não tenho UM PUTO. Alias, tenho uns 2 reais que eu preciso pagar um xerox na MERDA da faculdade.

Eu não sou vagabunda, eu juro que to procurando emprego, mas a MERDA da faculdade é de manhã e por aqui ninguém quer alguém pra trabalhar meio período. Alias, isso já foi o tema de um post meu. Tô tentando um outro emprego numa loja, mas até eu começar a trabalhar (se der certo, claro) e até eu receber vai uns 2 meses. Até lá, meu bem, Napoleão já perdeu a guerra.
Você não doa pro Criança esperança? Pois é, e você nem sabe pra onde a grana vai. Pois bem, ajude uma única pessoa que só quer tentar entrar numa faculdade melhor, para se tornar uma pessoa (jornalista) melhor e poder conhecer pessoas inteligentes, e viver numa cidade onde há cultura e livros a 3 reais.
É bem fácil, qualquer cinco reais ajuda. Qualquer coisinha. Só não vale passe de ônibus. Sério, gente. Sei que tem até um número grande de pessoas que lê todas as minhas besteiras por aqui, então vai, ajudem uma aspirante a qualquer coisa a tentar conseguir algo melhor.

Ok, chega de drama porque isso não é o programa do Gugu.

Banco Itau
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quando eu for rica e famosa juro que recompenso quem ajudar =D

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Anominal

por Keissy Carvelli

Ah, Chico. Eu mal conheço teus versos, mas gosto e para gostar não é preciso conhecer muito. Basta olhar, ouvir um sorriso, sentir um abrigo.
Não faço cinema, Chico. Não faço nada de excepcional, e já não tenho muita vontade de ser a tal. Andei pensando e talvez eu nem acredite mais em Deus. "Desvairada", pensa você. Quem sabe eu seja isso mesmo e mais um pouco. Talvez eu seja bem menos, e talvez eu saiba que não sou nada daquilo.
Eu sou um desastre, Chico. Um desastre lúdico, confesso, com um resquício poético desses Pessoas que leio. Ainda assim um desastre.
Quando eu era criança, e brincava de pés descalços, e corria pela rua asfaltada e cheia de pedrinhas eu sofria de insônia, sofria mais, sonhava mais. Eu suava pelas tardes ensolaradas e nem a lua me impedia de manter os olhos abertos e correr por todos os cantos da minha imaginação.
Agora, Chico, eu durmo a qualquer hora e insônia eu desfaço com um cigarro. Nem insônia eu tenho mais, disse para dar uma idéia temporal de mudança. Eu nem sonho mais.
Quando a gente cresce, Poeta dos Acordes, a vida se acostuma. No primeiro soco a gente chora, sangra, reza, escreve, faz o diabo. No primeiro tombo a gente sofre, descabela, desfalece, perde os ponteiros, mas não entrega os pontos.
Na segunda luta a gente acorda mais cedo, ora, faz mandinga, promessa; trança os dedos, traça os olhos, estuda os trajetos, porém quando o mesmo soco vem de encontro à nossa sorte a gente cai. Depois levanta.
O brilho volta em uma semana. O soco volta em um mês. O terceiro, o quarto, o quinto dos infernos. Aí já não sangra, não chora, não bate. E quando a dor se acostuma com o peito, Chico, ela deixa de doer.
Francisco é seu nome, Chico? O meu pouco importa. Eu não o leio por aí. E aquilo que a gente não lê a memória não grava. Eu já me esqueci de mim, e meu nome tem tantas letras estranhas que eu prefiro não me chamar.
Posso ser Maria e João, e posso não ser. Já não importa, Chico. Eu já não sonho, e quando eu era criança eu dizia com a voz baixinha: "eu só vou morrer quando eu deixar de sonhar". Sempre achei inaceitável não sonhar. E por isso eu sonhava a todo instante, e minha mãe deixava, mas ela mesma não o fazia.
Agora eu entendo tudo. A gente cresce e começa a entender o que "criança não entende". Eu entendo que sorte é feito o nome: se nasceu Joana muito dificilmente se tornará Maria.
Ai, Chico. Se eu fizesse cinema, e não fosse de ninguém...Sabe Deus o que eu seria. Justo eu que nem sei mais de Deus.
Até mais, Chico. Eu vou dormir, porque para sonhar não basta fechar os olhos.



[ouvir: Ela faz cinema, Chico Buarque, talvez as frases se explicitem mais.]

domingo, 10 de agosto de 2008

Okilled

por Keissy Carvelli

Eu já assumi que sou uma fodida e abusei de argumentos pseudo-sensacionalistas e irônicos para provar tal façanha. Hoje, senhoras e senhores, eu volto para dizer que, além de fodida, eu sou também uma estúpida.
Que eu nunca me dei muito bem nessas coisas de amor-relacionamento-namoro-paixão não é novidade. Eu sempre deixei escapar toda essa falta de sorte, ou de sei-lá-o-que em cada palavra usada, em cada frase, gesto, rima, verso e, sinceramente, nunca liguei em deixar explícito o que eu procuro metaforizar. Mas eu, sinceramente, não sei que raios está acontecendo.
Eu poderia culpar todas as merdas que eu já vivi nessa coisa sentimental; poderia culpar a falta de sorte, a falta, ao longo do tempo, de pessoas que se importassem de fato. Eu poderia e eu vou, ainda que isso não resolva nada. E não mesmo.
Eu faço coisas por fazer, e você pode trocar "faço coisas" por "beijar pessoas" que não mudaria o sentido da frase. Eu saio por aí e vou me perdendo dentro de mim, e dentro dessa falta; e vou me enfeitando com lápis, esmalte, batom; e vou me embriagando de cerveja, cigarro, música e não chego a lugar algum. Eu vou machucando antes que eu me machuque, e eu nunca fui de machucar ninguém. Eu prefiro me machucar, ou prefiria, eu já não sei mais.
Eu não me importo mais com uma porção de pudores porque nunca ninguém se importou comigo. Eu não me importo de viver assim, num vazio assustador, eu me acostumei a isso. Eu me acostumei a ir levando todas essas coisas erradas, e sem consistência, porque quando eu quis ninguém me quis. E quando eu estava lá, eu estava sozinha. Eu ainda estou sozinha.
Eu me tornei uma estúpida e ninguém me impediu. Antes eu vivia bem com as minhas paixões platônicas, minhas idéias lúdicas, meus amores extravagantes. Mas o tempo passa, senhoras, e senhores. O tempo passa, e muita gente passa deixando marcas, e lágrimas que secam, e a gente vai ficando assim. Eu fiquei assim.
Pro inferno as paixões platônicas, os devaneios! Eu satisfaço meu ego com milhares de porcarias que eu faço por aí. Eu satisfaço meu ego, minha insegurança, meu egoísmo, meu despudor com qualquer olhar que se aproxime. Eu vou fazendo, e sei bem quando faço. Eu assumo! E espero que assumir me faça menos estúpida. Menos hipócrita já me alivia, de qualquer forma.
Ela tem um bom motivo para fazer tudo. É o carinho quase que apaixonado, é a amizade, a carência+amizade, o vinho, o passado, o diabo a quatro. Ela tem mil motivos, e motivos são sempre motivos singulares e unilaterais. Eu não. Eu não tenho motivo algum para fazer as coisas que faço, mas não há nenhum para não fazer. Ela faz, será que vocês entendem?! Ela também faz. E a gente vai se machucando, e explicando, e voltando ao mesmo ponto sempre, porém com mais intensidade. E eu não consigo parar. Ela não consegue parar.
Eu sou uma estúpida porque eu estraguei, com uma noite, três ou quatro dias perfeitos. Eu estraguei porque ela se importa, e eu gosto disso. Eu estraguei porque eu não queria me sentir idiota, e, diferentemente, é tudo o que eu consigo me sentir agora.
Eu estraguei porque eu sou uma estúpida que precisa aproveitar todas as chances que me aparecem como se o mundo fosse desabar amanhã. E, pasmem, o mundo não acabou. Eu não dormi, não comi porra nenhuma e já passam das quatro da tarde, e nenhum tremor sinalizando o fim dos tempos.
Eu sou estúpida e não me importo em dizer. Eu não me importo com muita coisa, mas eu me importo com ela, e acho que ela não sabe. Eu me importo com o tamanho do sorriso dela e por isso uso as gírias que ela gosta na hora certa. Eu me importo com o que ela vai sentir ao perceber minhas mãos em seu rosto; eu me importo com os medos que ela guarda e controlo todas as minhas vontades.
Eu me importo com o que ela vai pensar de mim se eu tropeçar e cair; eu me importo com as escolhas que ela faz, e queria fazer parte de todas. Eu me importo com os sonhos que ela tem, e procuro suavizar suas quedas. Eu me importo tanto que pareço criança com caderno e caneta na mão dizendo bobagens em voz alta para qualquer um ouvir.

Desculpem a estupidez da expressão, mas eu sou uma estúpida.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Subterfúgio Nostálgico

por Keissy Carvelli

Fechei meus olhos por breves instantes numa nostalgia barata, quase que pueril.

Os dias eram de sol ao centro, tão cheios de vida quanto a minha vontade de tocar-lhe os lábios com as pontas dos meus dedos e envolver aquela paixão nos meus braços imprudentes e extremistas.
Arrisquei todos os meus pudores sem qualquer questionamento; enfiei numa mochila algumas roupas novas, o meu sorriso, a minha saudade e, na carteira, alguns restos de tostões. Menti severamente como quem mente aos três anos de idade sobre um chiclete escondido, um chocolate comido. Afastei os temores com as lembranças dos olhos de menina; apanhei com os pulsos firmes aquela passagem amassada e quase rasgada do suor trêmulo e coloquei-me naquele ônibus, beirando o vulgar, que me levaria ao lugar onde eu nunca soube se pertenci.
Joguei os olhos pela janela e, pela sua transparência, encarei a escuridão. Algumas estrelas brincavam de se esconder entre as nuvens; a lua, por vezes, contrariava o tempo e não passava, não deixava os minutos correrem depressa. Minha saudade gritava, imaginava um passado recente, projetava um futuro ausente.
A estrada encolhia solitariamente, tão solitária quanto eu e meus devaneios pulando naquela poltrona fria. Os minutos soavam feito pedras grandes e dolorosas rolando em linha reta. Era capaz de ouvir meu silêncio ensurdecedor lutando contra os ponteiros do relógio.

Nas costas uma mochila velha; nas mãos toda uma saudade de meses, e medos, e desejos. Um abraço distante seguido por um beijo tátil concretizou todas as minhas incertezas. O incerto sempre gostou de brincar comigo, e eu ia deixando, deixando, até perder completamente o jogo.
Os olhos eu conhecia. Aquela feição contida, aquele meio sorriso se abrindo a cada beijo. As mãos seguravam os fios dos meus cabelos e logo percorriam todo o meu rosto, meu corpo, meus sentidos e sensações. Eu conhecia cada extremidade daquelas confusões, e me envolvia em todas elas com tudo o que havia de bom em mim.
Derrubamos lágrimas que já não sabiam exatamente para onde correr; derramamos pelos dedos todos os sonhos unilaterais, os princípios desiguais. Era o suor das noites quentes e ofegantes contrastado com a distância dos dias claros. Era o sexo contra o amor, o meu amor. Era o que eu sentia contra mim, somente contra tudo o que eu, solitariamente, era.
Sol, e lua, e madrugadas, e risos, e lágrimas. Muitas lágrimas sem entendimento, sem sentimento. Agarrou-me pelas pernas, pelos braços e coração como quem agarra um brinquedo e não quer mais soltar. Eu precisava me soltar de qualquer maneira, ainda que o meu choro brotasse feito dor.
Não deixei escapar o quanto me doía arriscar perder aquele beijo, aqueles toques e aquele mistério exalado pelos olhos baixos. Afagada pelo abraço, sussurrei que não voltaria mais. Subi o tom de voz sem titubear e sustentei a idéia de não mais voltar. Eu não voltaria enquanto a nossa vontade não fosse só minha. Enquanto a minha saudade, o meu amor não fosse só meu.
Dos olhos algumas lágrimas como resposta. Eu tinha razão e não havia questionamentos. Acalmei seus erros e deixei o silêncio invadir o quarto e, depois, o sono se sobressair ao silêncio.
Mais um sol surgindo e, antes que eu pudesse refletir sobre minha própria decisão, abordou-me de forma sutil, de forma única como nunca fizera antes. Calou-me com os olhos prometendo não me deixar ir sem previsão de volta. O sol não dava qualquer toque hollywoodiano para a cena, porém tudo parecia fazer sentido.
Por um único instante pensei que ali, naquele exato momento, fazíamos todo o sentido. Não dei-lhe uma resposta direta a não ser um beijo. Um longo beijo e um abraço. Senti o perfume e os cabelos longos caindo sobre os meus.
Não me prometeu amor. Amor não se promete. Não prendeu minhas paixões em sua casa, sua roupa, seu colar. Disse apenas que não deixaria. Não me deixaria ir assim, dizendo que não mais iria voltar. Ela não sabia que para deixar é preciso, antes, ter. Ela não sabia que para um deixar, é preciso ter o outro. E eu, eu nunca tive, sequer, uma metade dela.
Joguei a velha mochila nas costas e o amor eu enfiei num lugar onde não machucasse tanto. Sorri. Sorri inteiro para completar o meio sorriso dela. Antes de partir um “eu te amo” surgiu como palavras de um fim, talvez, um quase meio, o desejo de um início.
A voz rouca, embargada, confirmou mais uma vez num tom de dúvida: “você vai, mas eu farei você voltar.”

Um ano passou sob a pele, nenhuma passagem em minhas mãos, nenhum pedido de retorno. Eu nunca mais voltei.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

259 KM

por Keissy Carvelli

Eu queria ficar aqui e não preciso usar metáforas para dizer. Eu queria teu perfume, teu sorriso e tua pele a cada abrir de olhos dessas manhãs com vento e céu limpo.
Eu queria teu beijo nas noites de sono, nas estrelas brilhando, nas luzes piscando, no som ecoando por toda a pista. Queria tua mão na minha nos carros passando, na rua vazia ou imersa em multidão.
No calor dos dias, no frio da saudade eu queria ter teus olhos olhando os meus e não encarando uma janela estúpida de despedida.
Eu queria tanta coisa que nem posso, mas queria você mais perto. Bem perto dos meus braços, da minha boca, do meu toque, da minha paixão. Queria mesmo acordar o teu riso com o meu; transcrever o meu amor no teu; convencer que o meu adeus não é meu.
Eu queria, queria tanto que soa pueril. Eu queria tuas brincadeiras, e até o teu jeito infantil. Queria não ser o pretérito perfeito, e ser a sua perfeição.
Eu quero, menina, todos os teus sentidos, seus conflitos, suas feições. Eu quero não ter que ir, não ter distância, e ter você pra mim.
Eu quero não olhar pela janela estúpida do ônibus e me ver partir.