quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Saudade sóbr(i)a

por Keissy Carvelli

Minha saudade não sorri sozinha. O teu perfume também invade minha casa, meu quarto, minha cama. Teu perfume invade os meus sonhos de noites e dias inteiros sem me dizer, sequer, uma única palavra.

O teu perfume não me invade sozinho. Há vestígios materiais de você. As tuas linhas, as tuas manias, teus vícios, tuas fotos, teus presentes caem bem na minha estante, na minha saudade, no meu instante.

A tua solidez não me completa sozinha. O seu beijo, as suas mãos, o seu corpo sobre o meu, o seu olhar sob o meu, os seus sorrisos dentro dos meus transformam minha casa, meus livros, minha TV desligada, em motivos para só pensar em você.

O seu carinho não me deixa sozinha. A minha saudade invade a minha casa, o meu quarto, o meu sorriso, o teu perfume. A minha saudade invade todos os próximos dias, os próximos instantes, o próximo sono.

Nossa saudade não se faz sozinha. São pedrinhas dos nossos dias cheios de versos, músicas e paixões. São pedrinhas justapostas em ordem cronológica, em desordem lógica.

Nossa saudade não se faz sozinha. A minha completa a sua com essas quase rimas, com o som que faz quando um de nós se vai. A sua completa a minha com o blues biografado, com o pequeno pedaço do que era seu e agora é meu e tem nome. A nossa saudade vai se completando assim, como as linhas escritas num mesmo espaço, num mesmo foco, num mesmo sentido.

A nossa saudade nunca é completa quando falta a tua voz suspirando os nossos dias bem perto de mim. A minha saudade sente a sua falta, e a sua falta é o que me sobra.


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Enquanto eu vou

por Keissy Carvelli

Tudo o que eu ouço é a chuva batendo na janela às minhas costas enquanto vou tateando minha saudade com as pontas dos dedos que há pouco estiveram em todo teu corpo.
Se estivesse aqui, talvez saíssemos nessa chuva de mãos dadas andando por aí, numa praça deserta, ou por entre as ruas alagadas de carros e histórias. A nossa estaria sendo feita a cada centímetro de sorriso despedaçado e completado com nossas besteiras e nossos cafés. Só tomo café do seu jeito, com o nosso cigarro, com você.
Minhas promessas se confundem com o meu desejo de te segurar bem forte e não te deixar ir, mesmo que seja eu quem tenha que ir. A chuva não deixa, ela me quer aqui. Ela pede um beijo, sob suas gotas frias, sob seu céu cinza. Ela...
O som da água batendo no chão não tem graça, o som de bolero, de blues, de samba não tem graça. A saudade não tem graça. Eu sem você parece não ter graça.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Tuesday morning

por Keissy Carvelli

Eu devo dizer que gostar me machuca. Não sei se pela intensidade ou se pelas impossibilidades. O excesso dói, seja lá do que for.
Mas eu tenho um amor, desses que ri quando falo, que beija quando eu calo. O meu amor é desses que compra cigarro, café e sorrisos, coloca tudo numa caixinha e me entrega escondido. O meu amor não chora a despedida.
Eu não escolhi, não se pode apontar o dedo e dizer "vai ser meu amor", perde o encanto, a curiosdade. Não houve escolha, quando abrimos os olhos a bebida já não existia entre uma boca e a outra.
O meu amor sai cedo, roda o dia, completa o meu dia. Troca de lado, suspira alto, fecha a porta, dorme em mim. Sorri sem os olhos, sorri pelo canto, pelo meio, sorri em mim.
Não se faz amor com prosa, verso, poema, canção. Não se faz amor escondido sem paixão. Não se faz qualquer besteira escrita pela manhã sem saudade, vontade, princípio de exaustão.
Não se faz dia assim sem teu beijo, seu aceno, teu abraço.Não se faz saudade sem você.
Eu tenho um desses amores na pele, nos olhos, nas letras e melodias.