sábado, 23 de maio de 2009

Quem diz sou eu

por Keissy Carvelli

O mundo gritava pra elas com suas vozes roucas e frias que essa coisa de se apaixonar assim, logo na primeira vez, é besteira de dramaturgia. Olhar não traz paixão, o sorriso é só uma expressão, essa coisa toda literária de encantamento é bobagem de solitários confusos. Deixem disso, é cedo demais! Não pulem etapas, o tempo é que aponta se faz sentido ou não. Paixão só dura alguns segundos, vale mesmo o convívio, as conveniências...

O mundo sussurrava nas madrugadas em seus ouvidos que é besteira. Saudade não existe, olhos fechados, mas com pés no chão. São tantos passados entre esses seus dias de sol, tirem da cabeça essa história de futuro. Dizia tantas controvérsias conscientes e absurdas que, por vezes, soltava uma lágrima ou outra quando ninguém poderia ver...Dizia tantas babaquices.

Elas se apaixonavam a cada instante em que os olhos, tão distantes em semelhanças, trocavam um sorriso doce. Elas se olhavam e sorriam mesmo de olhos fechados, ou inundados de insônia. Contavam o tempo entre suspiros e janelas abertas, e enchiam a alma de poesia de bar. Derramavam uma lágrima a cada milha percorrida, a cada distância. Nem lembravam de luas atrás, estações atrás, lembravam da música sutil para o primeiro beijo, lembravam dos diálogos do dia perfeito, da memória perdida em desejo. Elas diziam tantas rimas...

O mundo dizia sentimentos medíocres com peles esquecidas, e sussurrava sexo contido às coxas e seios. Elas diziam os olhos, os beijos, os risos, as peles, os desejos. Elas diziam que se aquelas mãos entregues uma à outra em sintonia, que se aqueles beijos seguidos de sussurros sentimentais não forem amor, nada mais seria.


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Primeiro ato

por Keissy Carvelli

- Vou sentir saudade.

- Eu vou sentir saudade.


Olharam-se nos olhos como há tempos não o faziam. Talvez até já tivessem lançado algum olhar pra outro alguém, mas nunca assim. Os olhos tão opostos em cores e formas encontraram-se num mesmo ponto, num mesmo sentido e podiam dizer absolutamente qualquer palavra, qualquer sentimento intenso sem sequer reproduzir um som. O silêncio bastava para aqueles olhos.

Os lábios colaram sorrisos mútuos, sorrisos abertos numa mesma fração de segundos sobre os braços cruzados ao redor do corpo. Tinham no silêncio a expressão perfeita para a luz apagada e janela aberta.

No rádio uma música cheia dessas palavras escondidas nos medos de amores passados, de paixões erradas, de lágrimas caídas. Por quantas vezes pensaram em desistir dessa coisa toda, desse lirismo todo por uma dor jogada em camas solitárias. Por quantas vezes olharam para as estrelas num céu aberto e desenharam em imaginação cenas de livros e filmes melódicos.

Estavam ali, ouvindo letras de paixão com os olhos cheios dessa vontade incontrolável de parar o mundo e parar o dia e trancar a porta e deixar o som, os olhos e os beijos levarem o resto do tempo inteiro.

Sorriam e entrelaçavam as mãos como se encenassem um filme há anos e estivessem apenas reproduzindo, mais uma vez, com a mesma intensidade do primeiro ato. Era o primeiro ato de uma paixão inteira, sem tempo nem compasso, sem capítulo último. Uma diálogo inicial e só...

Não trocaram nostalgias, passados distantes, passados presentes. Era como se o relógio começasse a girar dali, exatamente naquele instante, naquele sofá claro, naqueles olhos opostos.

Era paixão, e inúmeras precipitações seguras. Eram os olhos e os sorrisos brilhando juntos, e quando os olhos e os sorrisos se completam não há tempo, nem espaço, nem passado, nem medos.

Sabiam da saudade dos próximos dias, mas não sabiam que a paixão terna e doce daquelas noites, e canções, e lençóis, e risos, e abraços, e olhos sorrindo estava só no primeiro ato, no primeiro diálogo da peça mais linda que já atuaram.