sábado, 24 de maio de 2008

Cartas postas à mesa

por Keissy Carvelli

Não, não e não. Mais uma vez não.
São apenas algumas cartas jogadas ao espelho.Não.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Onde as terminações se repetem

por Keissy Carvelli

Quando eu quis ir embora suas mãos me puxaram para trás num toque brusco, impulsivo, sem permitir qualquer reação contrária dos meus braços.

Meus pés pisavam o vão limitante da distância entre o sentir e partir, exatamente assim, em rima pobre com terminação idêntica. Não há rima rica quando as terminações se repetem.

Posicionei meu corpo cansado na fronteira exata das precauções e de todo o sentimentalismo para evitar qualquer tropeço tolo que me levasse ao chão certeiro, sujo e tão bem acostumado a essas caídas grosseiras. Meus dedos tocaram o trinco maciço, suas entranhas chocaram-se contra a madeira provocando um ruído típico de partida desses que duram horas dentro de quem sente, porém a porta não se abriu.

Seus olhos estavam ali, fitando os meus sem perdão nem pecado. Eram olhos concretos, ainda que distantes, pedindo, em protesto às minhas mãos, um abraço; eram olhos chamando os meus para dentro, para mais perto. Eram olhos de quem diz “não, não vá ainda, jogar-se para fora assim não é preciso”. Eu sei o momento de ir.

Estava, em silêncio, retirando aos poucos o pouco que me restava, não era uma precipitação desesperada por um fim, eu não me punha para fora aos socos e pontapés. Dedilhava meus passos para o começo de mim restringindo todos os meus focos à minha percepção. Eu sabia que deveria ir, eu sabia.

Mas era você, eram seus olhos, suas expressões doces dizendo que a minha razão não exercia sentido algum. Eu sentia, e não deixei de sentir. Era tua mão aos prantos puxando meu corpo para a tua direção, e puxando meus sorrisos, meus sonhos, minhas idealizações para você. Como eu, vulnerável aos teus anseios, poderia insistir nessa insana obsessão de racionalidade?

Voltei num caminhar lento e, a cada centímetro andado, era a espera de um beijo; a cada movimento controlado, uma noite em pensamentos ilusórios. Voltei para a sua vontade, para a nossa intensidade sem sequer renunciar às minhas vozes realistas. Eu sabia, eu tinha de ir, mas não fui.

Tomei meu lugar, mas não o dele; acalmei os meus tremores internos; traguei um resto de cigarro; recolhi os restos de mim e fui colando pedaço por pedaço com teus afetos e amores. Fui traçando um novo lugar, uma nova vontade de te sentir; fui traçando, trancando os medos, arriscando as cartas, trançando os dedos até esquecer o trajeto da cama até a porta. Eu deveria ter ido.

Não fui e ouço agora dos mesmos lábios mais um pedido, uma escolha, uma renúncia. Ouço, daquela mesma voz incerta, novos ruídos simulando, em contornos discretos, o exato caminho de nós até o “eles”.

Diz, sem fitar meus olhos, que não há partida, porém naquele quarto o “eu” já é demais; os nós desataram; a febre envolve aqueles outros dois, eles dois, não eu. Não há mãos nos meus ombros, nem braços, abraços mistificando o caminho.

Eu deveria ter ido ao meu pedido, mas sempre atendo ao seu. Agora eu vou.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Íntimo maltrapilho

por Keissy Carvelli

É o tema quem me incomoda. A falta dele, para exagerar de uma sinceridade programada e hipócrita.

Tudo me parece muito igual para ser dito, quanto mais para ser colocado em palavras rebuscadas e previamente dissolvidas em exaustivos espasmos. Há uma monótona repetição que me aporrinha o saco a cada abrir e fechar dos olhos, sem me permitir um súbito fluxo daquela criatividade efusiva de principiante.

A forma sólida, abstrata; as colocações e preposições; as objeções, focos e nexos surgem feito repetições cíclicas e mal humoradas de uma falta segura e intacta de novas fontes e visões.

Sinto-me presa à necessidade da escrita sem ter em mente qualquer inspiração para as letras. Leio compulsivamente numa tentativa desesperadora de absorver, digerir, ou sei lá mais qual função biológica possa existir.

Há também, entrelaçada a todas essas perturbações inertes, uma falta de paciência para o resto do mundo. Todo ele, quase que sem exceções. Imagino que a falta de extremos me incomoda.

Alternei a parede do quarto com uns recortes e figuras deixando tudo bem criativo, confesso. É essa minha antiga mania adolescente de sempre querer dormir numa aparência estudante-alternativo-de-jornalismo. Grande coisa, mas me agrada. O quarto eu mudo, colo uma coisa aqui, uma capa de cd ali, mas e que raios eu faço com os punhos fechados e pés intactos?

Sou uma eterna insatisfação, talvez. O passo seguinte é sempre esperado como glorificação de um estado maior de satisfação, e então o passo é apenas mais um passo. E, por deus, não há satisfação plena. Qual é? Então eu, uma estúpida indagadora de tudo, vou agora dizer que acredito na felicidade plena? Uma casa na praia, um cachorro, e um amor desses de encher os olhos não seria nada mal, confesso, no entanto seria uma morte lenta e deplorável a cada segundo de tédio.

Começo a acreditar que não sei viver sem uma paixão dessas ridículas que te botam num extremo maldito de escritas hiperbólicas. Sobre o que vou escrever, alguém me diz? O mundo anda a mesma coisa: a Isabella já me encheu o velho saco; o Ronaldo e as travestis já viraram uma bela palhaça, ora essa, qual o problema em querer comer algumas travas numa noite solitária? Agora vão lá as três pseudo-moças dizer que era tudo mentira e que o tal Fenômeno não sabia mesmo que o sexo de aluguel era do mesmo sexo? Ah, por deus. É melhor eu voltar ao meu íntimo maltrapilho.

Uma paixão sempre é motivo para as melhores palavras; o vocabulário se enriquece sem qualquer esforço mental. É sempre paixão, mas não há nada que faça os dedos palpitarem tanto quanto essa estação.

Quem sabe eu não sirva mesmo para escrever outro tipo de coisa. Essa história de inventar algo para contar não me atrai em momento algum, não há como deixar aquela sinceridade programada de lado, ainda que hipócrita.

Por fim, não há fim. Uma bela falta de tema é, numa noite fria e impaciente, um bom motivo para escrever.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Tirinhas

por Keissy Carvelli

Cometer um furto ao Estado é bem legal. Gera um tipo de alívio a alma, uma leveza no ímpeto do ser como se você saboreasse o último pedaço de bolo do aniversário daquela tia-avó velha, chata e sem graça.
Não, eu não desviei milhões, não fiz um "depósito do povo" na minha conta da Suíça e não, definitivamente não paguei a tapioca com o cartão corporativo. Foi apenas um rolo de papel higiênico, um grande, bem grande, eu confesso.




Nota do eu-ditor: Keissy jura que cometeu tal ato por motivos de força maior, e sim, ela assume, em náuseas, uma atual crise criativa. Disse ainda, em off, ser assim, engraçadinha e irônica quando a tal crise ataca. Promete não se apaixonar, e criar posts menos mexicanos. Promete também mentir menos.

Nota 2 do eu-ditor: www.novasvisões.com.br, um novo lugar para onde escapam minhas prosas sentimentais.

Nota 3 do eu-ditor: www.jornaldecera.blogspot.com, coisa de calouro de jornalismo.