quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Let it go

por Keissy Carvelli

"Waking up this morning thinking maybe this can´t be real..."

domingo, 24 de fevereiro de 2008

O dono da Ilha

por Keissy Carvelli


Amanheceu com os planos fixos soando feito bocejos numa manhã calma de um dia incomum dos últimos 50 anos. Não sorriu, tampouco demonstrou qualquer exaltação de humor nas rugas do seu rosto já cansado e da sua barba, já não tão espessa quanto outrora, não se moveu um só fio.
Os passos, que na guerrilha marchavam clamando revolução, eram agora tímidos e suavemente lentos sem alvo concreto; os pés não calçavam botas de combate, mas chinelos confortáveis de uma vida enferma e, naquela decisão difundida, um velho idealismo.
Era ele, o ditador, o chefe da revolução ditando sua retirada estratégica do alto da torre. Era ele pendurando as botas de couro de tantas lutas e doutrinas no fundo do armário. Era ele, o mito comunista, afastando-se do comando da ilha. Era ele, mais uma vez, fazendo história.
O que ninguém percebia, ou melhor, o que ninguém gostaria de saber, é que as barbas foram postas de molho, os peões serão trocados, mas o dono do jogo não. Será ele, ainda que por trás das câmeras, o protagonista da cena, fiel e Fidel.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Por um fio

por Keissy Carvelli


Desci as escadas como se voasse sobre a cidade inteira, tendo em minha frente uma luz opaca de fim de tarde, aquela que diz que está cedo de mais para os sentimentalismos e tarde o bastante para qualquer bocejar de sonos esquecidos. Em uma das mãos um cartão, na outra um aparelho moderno, desses que desfaz a distância, e, no pequeno espaço entre aquela quase lágrima e um pequeno sorriso, uma distração.
Ainda de roupas velhas botei os pés pela rua sem qualquer possibilidade de timidez e logo meus dedos discavam aqueles números tão fáceis já gravados numa memória detalhista. Alô? Quem fala? A voz segura e impostada respondeu sem titubear nem demonstrar qualquer fragilidade. Identifiquei-me não pelo nome, não por um apelido, deixei apenas que escutasse o timbre que define minhas palavras e naquele exato momento aquela segurança que outrora me atendera dava espaço ao tremor doce daqueles suspiros.
Por pouco, muito pouco, não senti aquela lágrima presa do outro lado da linha escorrer pelo rosto pequeno e logo cair em meus dedos. Por pouco ela não se entregou à minha voz. Essa voz às vezes rouca, às vezes irritante; essa voz que imprimi poucos sons não ritmados quase provocou o choro sufocante, quase trouxe para os meus braços a fragilidade inteira daquela que tomava meus pensamentos.
Não. Não fui a causa. Seria desprezível provocar nela sequer um soluço triste. Fui tão somente o apego, o colo ainda que invisível; fui a preocupação e o desejo de amenizar. Fui somente aquilo que eu já era, e por alguns minutos fui o abraço imaginário.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Uma rima, nenhum refrão

por Keissy Carvelli


Não. Só por hoje não vou dizer
Só por hoje vou fingir
Não gostar de você.

Muda, muda, muda

por Keissy Carvelli

Arruma o quarto, lava a louça, limpa o chão. Faz a compra do mês: detergente, arroz, pimenta, sal, sabão. Pratos, panelas, panos, princípios, pedaços aqui, partes ali. Faz o almoço, guarda dinheiro, acorda cedo, sente saudade, sente vontade, sente paixão.
Veste-se em sua casa, em sua rua, em seu pedaço pequeno de liberdade. Dorme em seus sonhos sem critérios, sem funções, sem qualquer ordem. Há apenas um motivo/razão.
Cruza uma, duas avenidas; logo acende um cigarro e deixa queimar no rosto um sorriso longo, daqueles que se estendem daqui até onde ninguém pode alcançar. Daqueles que o vento bate e logo sente inveja. Daqueles que dizem, gritam em silêncio.
Acorda e tudo está ali, sob seus pés, seus olhos. Não, menina, não é mais um sonho maluco de madrugada.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

por Keissy Carvelli


Eu não sabia o que dizer, sendo assim boto meu melhor sorriso, minhas tímidas lágrimas e solto um "tchau, até mais" com medo do que eu vá sentir.!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A Pequena Dos Sonhos

por Keissy Carvelli

Ela escrevia incansavelmente sobre amor, paixão, solidão e cultivava em seu interior um álbum completo de frases bobas que surgiriam sem critérios nem planejamentos. Ela sonhava feito uma criança na pré-escola, via borboletas por entre as flores, andava pelas ruas calmas do seu bairro, onde o vento batia suave fazendo mexer as folhas de todas aquelas árvores. Ela não ouvia nada, nenhum ruído a não ser o cantar dos pássaros que enfeitavam o seu jardim, e ah... essa menina dos sonhos poderia passar horas observando seu jardim verde e cheio de pétalas, brincadeiras, lembranças. A Dos Sonhos era exatamente assim: um jardim calmo e calado, sussurrando poesias quando o sol caía, sendo abrigo para pássaros e borboletas efêmeros que num instante estavam ali, pousando sobre a grama, e no instante seguinte levantavam vôo num adeus ligeiro, sem abraços nem apegos. A Dos Sonhos era esse jardim.
Aquela, a outra: A Pequena, vou chamar assim, não escrevia sobre amor e raras vezes demonstrava uma melancolia mórbida. Ela era doce, encantadoramente doce, como se sua quase ingenuidade soasse pelos seus olhos da forma mais pura que pudesse existir. Ela não sonhava muito, gargalhava mais, talvez por medo, por timidez. Talvez suas risadas eufóricas fossem a máscara perfeita para toda a proteção: oras, ela era pequena, e toda pequena teme se machucar. Vivia entre as gentes, carros. Seus ouvidos eram bem acostumados a todo esse barulho de vida; seus passos conheciam ônibus, frio, chuva, céu nublado. Ah, A Pequena, era como um parque de diversões: sempre alegre, inundada de atrações, pessoas, amores suplicados, amores não entendidos, rodas gigantes, montanhas russas. A Pequena era esse parque de diversões.
A Dos Sonhos tinha mais certezas do que ações, desenvolvia teorias incríveis sobre como, quando e o porque de todas as coisas que poderia ou não sentir. Ela analisava o perfil de todos os candidatos da próxima eleição e não a perderia por nada: ela amava política, e sempre pensou em se candidatar a algum cargo, não fosse pelos esquemas medíocres que isso implicaria. A Pequena não. Ela pensava em casar e ter filhos com o menino mais lindo do mundo que entenderia seus ciúmes e cairia em seus jogos de provocações sempre tão previsíveis e intrigantes. A Dos Sonhos também queria um casamentos, filhos, família, viagens, entretanto não com o menino mais lindo do mundo.
A Dos Sonhos era um extremo, A Pequena um quase equilíbrio. Elas talvez exibissem algum complemento.
Elas tinham idéias de amores distintas, desejos de amores distintos, medos de amores distintos, seguranças, auto-estima distintas. Elas eram mesmo distintas. Em comum o signo, ainda que A Pequena não acreditasse muito nessas coisas de zodíaco e combinações. Suas magias eram distintas.
A Dos Sonhos era tão inconseqüente ao ponto de querer A Pequena todo o tempo, ao ponto de perder madrugadas imaginando um só beijo e então tudo faria sentido. Ela era mesmo uma inconseqüente. Avisem A Dos Sonhos para ela ter cuidado, A Pequena não se entrega assim. Avisem! Corram! Quem sabe haja tempo o suficiente. Tarde de mais. Elas, nas incompatibilidades, encontraram-se pelo destino quebrado de uma e pelas vitórias da outra. Transformaram todas as birras, e brincadeiras, e distrações numa forma incrivelmente encantadora de falar sobre sentimentos.
A Dos Sonhos escrevia incansavelmente sobre a vontade terna de ter A Pequena sob seus olhos, seus risos. A Dos Sonhos não fazia a menor idéia do que poderia acontecer, e fazer idéia alguma era se precipitar em demasia.
A Dos Sonhos e A Pequena não eram opostos, nem tão iguais assim. Elas eram A Dos Sonhos e A Pequena, e tudo mais que isso poderia significar.

Ela Nunca Disse Adeus

por Keissy Carvelli


Ela escrevia, apagava e reescrevia em pensamentos grosseiros frases prontas para caracterizar aquele momento único e tão cheio de mudanças, como se a necessidade de sorrir e expressar um “está tudo bem” fosse grosseiramente maior do que toda aquela saudade que começava a apontar por aquele peito de coração pequeno e frágil.
Atrasava todos os minutos deixando pra depois a tal despedida, ela nunca soube dizer adeus; ela nunca disse adeus. Perdia-se por entre as reais expectativas e temia tê-las, não saberia desvendar o mundo sem imaginar sequer uma perfeição aqui, um beijo ali, uma lágrima sobre os olhos.
Entre tantos sentimentos de perda, saudade e mudança coexistia uma espécie de mágica detentora dos sonhos mais imbecis cheios de risos e afetos, e essa mágica, essa paixão discreta e sufocante permitia as maiores viagens por entre todos os futuros, e todos os meses seguintes, e todos os finais de semana, e quem sabe todas as dores, ou não.
Dizia em tom alto que a vida seria diferente e seria demasiada vivida, sem maiores planejamentos, mas ela era assim, cheia dos pensamentos longínquos e contos de fadas que de fato ela nunca vivera, e tampouco viverá. Ela era assim mesmo, uma criança imersa nas brincadeiras de fazer rir, escondendo sob a pele branca todo o medo de nunca conhecer o pra sempre das histórias que imaginava.
Ela não sabia dizer adeus e, tinha por quase exatidão, um dia para fazê-lo da forma mais poética que poderia existir, e substancialmente não sabia. Deixaria cartas para uns, bilhetes para outros; o silêncio também soaria como despedida, ainda que a vontade de falar fosse grande; e se despediria dela mesma com um sorriso contido em frente ao espelho, deixando escapar dos olhos uma lágrima densa, que cairia até seus lábios molhando sua boca de sal.
Ela nunca disse adeus, sendo assim faria alguma graça e tentaria não chorar diante de tudo aquilo que um dia esteve grudado por todos os pedaços do seu corpo e que agora ficaria ali, guardado para os feriados. Ela olharia nos olhos e diria num sussurro: “vou sentir saudade”, mas definitivamente as palavras nunca soaram como uma possibilidade, não longe dos seus dedos.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

22:22

por Keissy Carvelli

22:22 e não havia mais nada a pedir senão aquilo. O número repetido, soando feito magia, superstição, mania, ou coisa que o valha me levava a um, ou quem sabe dois meses atrás, no tempo em que os olhos não fechavam em delírios reais daquele rosto tão bem desenhado em suas formas simples e pequenas.
Eu não poderia juntar as mãos em oração por um pedido futurista, meus planos, de tão bem definidos, exibem falhas e eu já não estou disposta a detalhar todo o resto da minha vida num único desejo. A magia duraria um único minuto e meus sussurros interiores pediam uma só realização: os olhos.
Tomei a parte pelo todo, confesso, queria os olhos, a boca, os toques, o cheiro antes ignorado, a pele, os sorrisos, as manias, os jeitos, defeitos. Queria por perto, como num pedido banal. Não queria pra sempre, não agora, não neste exato instante: aprendi a não usar o “pra sempre” em vão.
Eu, diante dessas coisas todas, queria por um único momento, por um único fechar de olhos, por um único beijo e, sem todos os pra sempres, seria como tê-la por inteiro. Seria perder o medo, o foco, o ar; seria sentir por alguns segundos a respiração ofegante passando por todos os poros da pele quente e trêmula de paixão; seria estampar em corpo cru todos aqueles sonhos dos dias passados.
Eu poderia forçar pedidos escandalosos para um futuro de quatro gerações vistosas e bem remuneradas, no entanto só por hoje, só por um minuto eu peço um sorriso a mais.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Entre besteiras

por Keissy Carvelli

Eu sou uma estúpida, com ênfase em todas as sílabas para deixar bem claro a característica de um asno que me ronda.

Tenho uma habilidade genial de estragar qualquer situação pela mania grotesca de botar em palavras aqueles sentimentos todos que deveriam ficar guardados, bem guardados, sabe Deus onde.
Sufoca-me no exato instante sensações extremas que poderiam resultar num livro, numa música, num poema, numa lágrima. De qualquer forma não há nada além, ou até haja, como diria uma música da minha infância: um sentimento além da imaginação.
Escondo as pretensões por um segundo ou por outro e minha máxima vontade é botar os pés descalços no esfalto esperando você apontar na esquina, e te abrir a porta num gesto envergonhado, olhar teus olhos e estampar no rosto um meio sorriso de alívio e alegria. E eu ficaria ao teu lado por um pedido tímido vindo da sua mão puxando a minha sem qualquer medo, e eu estaria ali, olhando-te de perto e contando cada pintinha pequena existente no seu rosto.
Trocaríamos pedidos de desculpas pelas inúmeras grosseirias sem motivos, pelas besteiras ditas, pelos tons excessivos; trocaríamos sorrisos desses que damos todos os dias entre as conversas e eu te faria falar por horas só para escutar sua voz.
Já não penso em casamento, nem na remota possibilidade dos meses seguintes: meus planos detalhados me boicotam a cada suspiro. Não imagino em voz alta, não troco figurinhas com o futuro, não brinco com a intensidade, não escrevo romances hollyodianos.
Todavia, ainda que haja tempo, eu não desisto justamente pelo simples gesto de todo dia, pelas manhãs, pelos sorrisos, pelas mesmas besteiras de outrora, pela minha instabilidade, infantilidade. Eu não desisto porque sentimento nenhum é pouco o suficiente para qualquer desistência.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Vestígio Cético

por Keissy Carvelli


Os ossos quebrados,
Esfarrapados,
Preenchem essa pele imunda,
Manchada pelo suor frio
E pelas inquietas
Desilusões
Presas em meus prantos.

Os ossos destorcidos
Fermentam essa pele grotesca
Queimada de sol
E molhada pela gota pueril
De dor feito lágrima
E solidão
Agarradas numa só fé.

Os destroços espalhados
Desfocam a nitidez
Cruel pintada em cores vis
Dessa infame arte
De chorar, chorar
E derramar os erros
Pelo caminho suave
Da face em compaixão.

Os ossos desarticulados
Não gritam, não temem,
Não esperam pelo milagre eterno.
A pele não respira,
Tampouco descansa em sono febril.

Os entulhos repletos de tristezas
E desfechos, e distúrbios
São dilacerados
Pelo vestígio cético
Desta utópica valentia
Dos romances em contos infantis.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Aquela tal embriaguês

por Keissy Carvelli

Talvez eu tenha a coragem escondida por entre meus dedos fechados, ou talvez a minha coragem seja uma criança avessa ao mundo brincando de esconde-esconde nas ruas estreitas entre o que eu quero e o que eu posso ter.
Meus olhos claros do sol te enxergam pelo céu azul e pelas estrelas das noites que surgem nos meus sonhos encantados, e pelos dias, pelos mares, pelas incertezas de todas as hipérboles. Desfaço qualquer intenção em pensamento e, logo qndo surge um sorriso, uma vírgula, um ponto de exclamação, vejo-me perdendo aquele sentido sólido, aquele controle manipulador, aquela forma e máscara.
Talvez seja a embriaguês, ou o som latente dessa sala de estar cheia de mim, tão vazia da sua voz, dos seus jogos de quebra-cabeça ...Tantas maneiras e já nem sei como é que vou dizer sem soar clichê.
Meus dedos não tocam os fios do seu cabelo e, ainda assim, posso sentir seu cheiro por perto, seu ar, seus olhos, seus sorrisos sempre tão abertos e envergonhados. Não há nada que eu goste mais.
Imaginei um poema, uma canção, um soneto: já existiam; pensei num sentimento, num apreço, num amor: já sentia; pensei nas manias, nos defeitos, nos seus traços: já queria.
Perdi o tempo, o espaço, o meu medo. Perdi qualquer coisa que fosse tão maior quanto eu, todavia, não perdi a vontade contínua de deitar naquela cama fria e imaginar todas as minhas impossíveis loucuras de te ter!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Noites a fio

por Keissy Carvelli

Perco o ar num suspiro longo
Sem reticências de amores
Nem aspectos dos seus traços
Distintos e distantes
Como um raio de sol
Queimando minha pele branca
Num misto de prazer e dor.

Perco o gesto num descontrole frígido.
Desses seus risos que me invadem,
Dessas suas formas que me tomam,
O silêncio ensurdecedor me faz sorrir
Por noites a fio
Desenhando nos meus sonhos
O possível gosto do seu beijo,
Dos seus olhos, do seu ar...

Toco seu rosto em idéias
Imaginárias e sutis;
Sinto o timbre da sua voz
Em pedaços do que há de mim
Espalhados por aí.

Perco o ar num suspiro longo
E já não respiro
Longe do pensamento em você




terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Por mais uma vez

por Keissy Carvelli

Todas as velhas expectativas se tornaram tão patéticas quanto as novas que insisto em criar nos meus sonhos escuros de fuga e pega ladrão. E já não há qualquer sentido em tudo, em nada, em coisa alguma.
Por hora vou tentando sorrir, esperando pelos motivos certos dos passos errados e, imaginando os sorrisos indiferentes que não posso ter, vou esquecendo das peças falhas desse destino mal traçado e desastrado. Talvez seja falta de sorte, ou falta de zelo, de outro, de mim. Talvez seja a falta, somente.!
Por hora eu tento não pensar e aproveitar o resto de consciência e o pouco de você.