quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

22:22

por Keissy Carvelli

22:22 e não havia mais nada a pedir senão aquilo. O número repetido, soando feito magia, superstição, mania, ou coisa que o valha me levava a um, ou quem sabe dois meses atrás, no tempo em que os olhos não fechavam em delírios reais daquele rosto tão bem desenhado em suas formas simples e pequenas.
Eu não poderia juntar as mãos em oração por um pedido futurista, meus planos, de tão bem definidos, exibem falhas e eu já não estou disposta a detalhar todo o resto da minha vida num único desejo. A magia duraria um único minuto e meus sussurros interiores pediam uma só realização: os olhos.
Tomei a parte pelo todo, confesso, queria os olhos, a boca, os toques, o cheiro antes ignorado, a pele, os sorrisos, as manias, os jeitos, defeitos. Queria por perto, como num pedido banal. Não queria pra sempre, não agora, não neste exato instante: aprendi a não usar o “pra sempre” em vão.
Eu, diante dessas coisas todas, queria por um único momento, por um único fechar de olhos, por um único beijo e, sem todos os pra sempres, seria como tê-la por inteiro. Seria perder o medo, o foco, o ar; seria sentir por alguns segundos a respiração ofegante passando por todos os poros da pele quente e trêmula de paixão; seria estampar em corpo cru todos aqueles sonhos dos dias passados.
Eu poderia forçar pedidos escandalosos para um futuro de quatro gerações vistosas e bem remuneradas, no entanto só por hoje, só por um minuto eu peço um sorriso a mais.

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