sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ela Nunca Disse Adeus

por Keissy Carvelli


Ela escrevia, apagava e reescrevia em pensamentos grosseiros frases prontas para caracterizar aquele momento único e tão cheio de mudanças, como se a necessidade de sorrir e expressar um “está tudo bem” fosse grosseiramente maior do que toda aquela saudade que começava a apontar por aquele peito de coração pequeno e frágil.
Atrasava todos os minutos deixando pra depois a tal despedida, ela nunca soube dizer adeus; ela nunca disse adeus. Perdia-se por entre as reais expectativas e temia tê-las, não saberia desvendar o mundo sem imaginar sequer uma perfeição aqui, um beijo ali, uma lágrima sobre os olhos.
Entre tantos sentimentos de perda, saudade e mudança coexistia uma espécie de mágica detentora dos sonhos mais imbecis cheios de risos e afetos, e essa mágica, essa paixão discreta e sufocante permitia as maiores viagens por entre todos os futuros, e todos os meses seguintes, e todos os finais de semana, e quem sabe todas as dores, ou não.
Dizia em tom alto que a vida seria diferente e seria demasiada vivida, sem maiores planejamentos, mas ela era assim, cheia dos pensamentos longínquos e contos de fadas que de fato ela nunca vivera, e tampouco viverá. Ela era assim mesmo, uma criança imersa nas brincadeiras de fazer rir, escondendo sob a pele branca todo o medo de nunca conhecer o pra sempre das histórias que imaginava.
Ela não sabia dizer adeus e, tinha por quase exatidão, um dia para fazê-lo da forma mais poética que poderia existir, e substancialmente não sabia. Deixaria cartas para uns, bilhetes para outros; o silêncio também soaria como despedida, ainda que a vontade de falar fosse grande; e se despediria dela mesma com um sorriso contido em frente ao espelho, deixando escapar dos olhos uma lágrima densa, que cairia até seus lábios molhando sua boca de sal.
Ela nunca disse adeus, sendo assim faria alguma graça e tentaria não chorar diante de tudo aquilo que um dia esteve grudado por todos os pedaços do seu corpo e que agora ficaria ali, guardado para os feriados. Ela olharia nos olhos e diria num sussurro: “vou sentir saudade”, mas definitivamente as palavras nunca soaram como uma possibilidade, não longe dos seus dedos.

Um comentário:

Renato Ziggy disse...

Que bom que ela não disse adeus... Sei lá, o adeus dói. Bjos!