domingo, 15 de março de 2009

Memórias de uma noite passada

por Keissy Carvelli

Porra, o que você tá fazendo? Você tá me perdendo e nem se importa, não liga, não xinga, não chora. Porra, será a saudade só minha? Essa nostalgia recente de todas as noites, da embriaguez, da turbulência estranha, são só minhas? Porra, menina, você ta me perdendo e nem percebe.

E agora vem esse menino de pouco mais de vinte anos e me diz essas coisas. Faz poesia, bossa nova, olha nos olhos, sente o meu perfume, mas é o teu cheiro que eu sinto. Ele diz que é paixão, encantamento, sei lá. Eu não quero ouvir. Era você quem deveria dizer todas essas coisas estranhamente apaixonantes.

Porra, o que você tá fazendo? Ele não tem os teus traços, não tem a tua pele, tua mão pequena. Ele não tem teus segredos, tua segurança, tua infância. Os teus livros ele tem, um pouco mais, talvez. Canta Vinícius, Raul, Chico, Cazuza. Canta qualquer coisa que soe bonito o suficiente nessas cordas, mas não tem tuas birras, tuas irritações.

Eu nem me reconheço mais, essa é a verdade. Não temos nada em comum, não temos a mesma paciência, a mesma vontade, os mesmos critérios. Não temos uma à outra. E agora vem esse menino de fios bagunçados, sorriso confuso, olhos fechados. Vem com essas poesias, e eu entendo. Vem com essas metáforas, e eu sorrio. Vem com essa paixão e eu não sinto.

Porra, você tá me perdendo e eu não quero. Eu sinto falta do teu beijo, do teu abraço, e não desses que eu encontro por aí. Sinto falta do teu sorriso, e dos teus olhos. Porra, você quer me perder.