sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Nos livros que eu nunca li

por Keissy Carvelli
Não diga que sou o amor da tua vida se não for verdade. Vidas assim não duram uma ou duas semanas e no décimo quinto dia somem, desaparecem feito paixão adolescente. Eu posso entender qualquer infâmia que me for dita, qualquer palavra dura e sem sentido, embora eu não goste, provavelmente.
Você ainda sonha com cavalos brancos, não é? E príncipes, claro. Cavalo branco sem príncipe não teria poesia alguma, não teria brilho, eu entendo. Príncipe. Eu costumava sonhar assim também, e era bom, confesso. Mas me tiraram dos livros de contos de fada antes mesmo que eu chegasse ao fim e me botaram num desses livros de contos irônicos, irritados, por vezes tristes e solitários. E nesses livros, meu bem, os contos não terminam. Há sempre um sarcasmo bem escrito na última linha, e só. Só.
Sente meu perfume, meu bem. Sente o que há tempos você esqueceu. Está tudo preso nessa saudade sufocante, eu sei, saudade por aqui virou clichê, virou motivo, insônia, canção. Vai, se embriague nesse meu perfume enquanto tomo uma cerveja. Eu não sou teu príncipe. Eu ando a pé, seguro um cigarro e escondo os olhos num óculos escuro. Não pago a minha cerveja, nem o bilhete do cinema. Eu não sou o teu príncipe, vai, diz isso na minha cara.
Eu ando bebendo toda semana e não me importo. Já me avisaram que viver num conto é assim, sem cavalo branco, sem espada e com olhos inchados, sejam eles claros ou não. Tanto faz, o choro, a ressaca, o desespero é certo, as linhas são tortas, e a sombra do futuro é a sobra do passado, meu bem. Você sabe.
Você não é meu príncipe. Há muito tempo tenho esquecido dessas histórias. Você é o sorriso que eu gosto de ter, é o sonho que me faz acordar em pranto de medo ou saudade. Você tem os olhos escuros que me faz tremer quando me procuram no travesseiro ao lado, e não me importo que não sejam azuis. Você não é meu príncipe. Você é a paixão que não cabe num conto de fadas, que não cabe em nada que não seja a minha história escrita a mão, pele e sorrisos.
Mas se você ainda espera um príncipe, meu bem, diz. Fala olhando pra mim, e assim eu vou embora com a minha espada, no meu cavalo branco.

8 comentários:

J. Lara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flávia disse...

Eu já quis dizer essas coisas a alguém, mas a minha boca teima em verbalizar coisas do tipo "fica".

Vi o link do seu espaço lá no meio da turma do Novas Visões e vim conferir. Muito prazer =)

Beijo e bom fim de semana!

Hospício Temporário disse...

Ah, se você soubesse o quanto me parece intimo o "sarcasmo bem escrito na última linha, e só"!
Prazer conhecer tudo daqui.
Abraços

Laurita Danjo disse...

Que devaneio bom de viver. Provavelmente eu gostaria.

Rosa disse...

parece que sairam dos meus dedos as suas palavras

sempre parece..

Gustavo Fructuozo disse...

"sarcasmo bem escrito na última linha, e só"! Carvelli, Keissy.

Ainda ontem tava te vendo ler o texto da nossa formatura...ótimas palavras, sempre!

Gustavo Fructuozo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Adorei o texto!
E eu sei o quanto é ruim a gente acordar do conto de fadas e tudo ainda ter sarcasmo!

gostei daqui de verdade. :}