sábado, 14 de fevereiro de 2009

Conto como verso

por Keissy Carvelli

Os meus discos não te impressionam. Meus livros você tira da estante, joga num canto, para colocar todos os novos no lugar. Os teus. Meus contos não estão mais nas tuas leituras diárias, nem meu rosto no teus pensamentos diários, nem minha carta escrita em letras pequenas está presa no teu diários. Minhas frases não estão soltas em teu vocabulário, nem meu olhos presos no teu sorriso.
Vou brincar com esses teus dias tão longes de mim, e queimar meus livros. Vou riscar meus discos, e onde mais você estiver. Vou trocar o lençol para não sentir teu perfume, vou virar cinco, seis, sete doses de qualquer coisa para não sonhar com teu abraço, com teus passos meio andados meio pulados. Vou inventar piada, escrever sobre o céu, a fome, a falta de ar para não te colocar em poesia; vou esquecer os tons para não cantar teu nome.
Os meus discos não te impressionam. Meus livros transpiram paixões e lirismos, esses mesmos livros jogados num canto, dando lugar aos seus. Meus contos são assim, sem enredo, sem desfecho. Minhas frases são silêncios intensos de coisa qualquer.
Eu vou gravar nos meus discos as canções que eu fiz pra lembrar dos nossos dias. Eu vou brincar com os teus dias e colocar todos eles junto dos meus; eu vou rabiscar nos teus livros poemas inteiros e versos só teus.

4 comentários:

M disse...

É uma frase um tanto quanto clichê por aqui mas vou dizer assim mesmo..."adorei o texto!"

Michele Matos disse...

Perfeito. Intenso. Decidido. Belo Texto.

Claudia Bittencourt disse...

Adorei!

Pedro disse...

Dulcinéia
(ventoonde.blogspot.com):

Tem um poeta que diz:
Que os livros na estante já não tem mais tanta importância, do muito que eu li o pouco que eu sei nada me resta, a não ser...