sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Mensalidade

por Keissy Carvelli

É inevitável essa necessidade de me jogar em prosas ou poemas extremamente melancólicos uma vez por mês. Por vezes deixo o sono falar mais alto, ou me forço a deitar mais cedo para não parecer tão ridícula assim, tão publicamente, entretando eu acabaria eclodindo, ou matando alguém, ou a mim mesma, quem sabe.
Eu deveria ficar nervosa, me enfiar nas cobertas e comer chocolate até explodir nessas épocas denomindas de TENSÃO PRÉ MENSTRUAL, mas isso seria muito normal pra mim, não é? E além do mais me meti numa promessa e devo ficar até fevereiro sem comer sequer uma lasquinha de chocolate. Logo, como numa teoria bizarra da Grécia antiga, eu corro pra cá, neste miserável espaço cibernético, onde escrevo uma porrada de idiotices que provavelmente ninguém terá a paciência - com razão - de ler.
Tudo quanto é coisa que me acontece me faz ficar ainda mais melancólica e o mundo não ficaria surpreso se eu disesse que terminei de ler um livro do Goethe: um troço melancólico pra xuxu, e o cara se mata no final. Pronto, contei o final, o que não fará a menor diferença.
O livro é bom, é mesmo. O tal do Werther tem uma poética doce ao extremo, um quase Shakespeare, quem sabe; se fosse contemporâneo provavelmente cairia no clichê das novelas mexicanas: tudo muito sofrido, porém sem um desfecho feliz com festas, bebidas, beijos e gravidez.
O que mais me irritou no livro, porém, foi o jeito como me senti ali, naquele maldito Werther. Aquela intensidade toda, jurando amor por alguém que mal beijou. Puta cara esquisito, vai beber uma vodka, faça sexo, compre um maço de cigarros, e páre de chorar as pitangas que você não pode nem comer!
Inferno, o cara passa o livro inteiro amando uma mulher casada, outra trouxa; lamenta até os cotovelos; escreve, escreve, escreve; usa as mais belas palavras e no fim, ploft, se mata com a arma do marido da mulher! Puta-que-o-pariu! Vai ser infeliz assim lá na Etiópia!
Resumo da obra: presumo estar na minha TPM; estou discutindo e xingando uma personagem de um livro cujo autor morreu há milhares de anos; minhas unhas estão horríveis; odiei me identificar tanto com o idiota do livro; e a propósito, não posso nem comprar um maço de cigarros: promessa novamente!

2 comentários:

Ilana Stivelberg disse...

acho feio contar o livro.
acho mesmo.

Anônimo disse...

Nada, é tão divertido contar o final e destruir as expectativas alheias!

Mas hey, eu sempre achei que os etíopes fossem um povo meio feliz, mesmo famintos e tal