segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Saudoso aroma

por Keissy Carvelli


É o cheiro. Aquele cheiro dos dias finais do ano da minha infância cheios de ansiedades: quem será o Papai Noel? Mãe, eu sei que Papai Noel não existe, quem é?! Tio, você vai fazer a lasanha? Tia, a gente vai brincar de bola na rua! Não entrem com esses pés sujos na casa! Tá, ta, vamos pra varanda.
As tardes cheias de risos e preparativos; a mesa sendo feita; frutas, doces; a árvore disposta no mesmo canto de sempre envolvida pelos pacotes coloridos daquela infância dos primos, do sol, do calor, da diversão.
A noite ameaçava cair e os estômago de criança já dava indícios de ansiedade: frio na barriga. Músicas instrumentais embolavam um Jingle Bells emocionado; os olhos queriam derramar algumas lágrimas, mas não havia motivos para chorar. As estrelas, a lua de verão, tudo em seu devido lugar.
O meio da noite se iniciava e agora era só esperar por ele, ele viria, a gente sabia! Um barulho era feito no telhado e os olhos atentos procuravam disfarçar o anseio. Ah, os olhos de criança.
Trilililimmmm Trilililimm. É ele, é sim. Os olhares se cruzam expressamente nervosos: ele chegou!
E todo o resto faz sentido, todas as pessoas fazem sentido. Faziam!
O cheiro mudou; os interesses mudaram; tudo mudou. As crianças mudaram. As crianças cresceram.
Quisera eu nunca ter descoberto que o bom velhinho era apenas o tio preferido disfarçado com barbas e botas.

Nenhum comentário: