quinta-feira, 10 de julho de 2008

Fucking girl

por Keissy Carvelli

Eu sou uma fodida. F-O-D-I-D-A. E não me venha dizer que não, que “ó, você tem tudo”, “você é tão dedicada, você é isso, é aquilo, e daqui um tempo...”. Pro inferno com o seu tempo, o seu futuro e as suas palavras bonitas. Eu sou uma fodida, e assim sempre vai ser,ponto.

Minha atual situação financeira é a seguinte: tenho 2 reais e 30 centavos no bolso, 5 reais na conta, cartão de crédito SEM crédito (não, eu não sou uma compulsiva que gasta todo o cartão), meia garrafa de leite na geladeira, e um pacote de macarrão. Não, eu não tenho um puto de um molho de tomate, apenas o macarrão.

Além do mais eu tenho uma festa sábado pra ir; acabei de perder o furo do meu piercing no nariz pelo simples fato de que vou pra casa no domingo e não seria nada agradável, diante da situação atual, chegar com uma argola pendurada numa narina. E não, eu não tenho miseráveis reais pra comprar um piercing pequeno.

Claro, eu tenho um computador, um ap bacana (com companheiras de ap não tão bacanas assim), internet, câmera digital, mp4 e bons amigos. Mas isso não faz de mim uma pessoa menos fodida.

A minha situação familiar não é nada reconfortante, e eu prefiro não falar disso. E a falta de dinheiro é grande. Claro, se eu ligar pro meu pai dizendo que acabou minha comida e meu dinheiro ele vai me mandar uns 10 reais pra eu me entupir de steak de frango, mas eu sei que por lá a situação está tão fodida quanto aqui, e eu prefiro evitar a fadiga.

Procuro um emprego, e se tiverem algum me avise. O mais irônico é que, há 3 horas, eu tinha um emprego. Vou explicar: fui a uma entrevista para um BOM emprego, e quando digo BOM, em caixa alta, significa UM ÓTIMO SALÁRIO para qualquer pessoa, ainda mais para uma estudante fodida feito eu. Pois bem, eu não tenho experiência alguma e disse na entrevista, óbvio. Ser fodida não faz de mim uma mentirosa, ainda que eu seja em certos momentos. Pois bem, resumindo: ainda assim fui contratada para o BOM emprego. Sorrisos, abraços e resolvi perguntar o horário de trabalho. Adivinhe?! Claro, horário comercial, oras. E pasmem: EU FAÇO FACULDADE DE MANHÃ. Uhul!

Não, não tem como transferir. Essa porra dessa faculdade acha que o melhor para um jornalista que vai ser fodido na vida é ter aulas de manhã, e não tem escolha. É de manhã, sem choro nem vela.

Por 3 minutos eu já me imaginei comprando muitos livros, todos os que eu já li e que pretendo ler; projetei-me comendo pizza aos finais de semana; cerveja nos domingos sem me preocupar com o almoço do dia seguinte; lanches a tarde; viagens; baladas; e já me via rindo da minha estúpida ação de todo dia ao contar moedas pra comprar um estúpido steak de frango.

No minuto seguinte eu já andava pelas ruas com o vento na cara, sem um puto de um cigarro, nem um puto de um tostão para uma cerveja com os amigos no começo das férias. Num instante eu estava sendo contratada para um BOM emprego, estava me dirigindo à um BOM futuro, e a uma BOA conta. No outro...

E aí, definitivamente, convenci-me de que sou uma FODIDA. E quer saber, eu nem ligo.